Cientistas descobrem novas formas de tratar corações doentes
Dois estudos publicados nesta quinta-feira apontam novos caminhos para tratar corações doentes. No primeiro, células da estrutura do órgão foram transformadas em células que se contraem e batem, enquanto no outro foi reativada a habilidade de o coração regenerar tecidos danificados. As duas abordagens precisam de mais pesquisas antes de serem usadas em humanos, mas representam grandes avanços no campo da medicina regenerativa, mostrando ser possível reparar órgãos danificados dentro do próprio corpo dos pacientes no lugar de recorrer a transplantes ou órgãos artificiais.
Num dos estudos, uma equipe do Instituto Gladstone de Doenças Cardiovasculares, da Universidade da Califórnia, criou células cardíacas a partir de outras mais ordinárias chamadas fibroblastos. Pesquisadores de células-tronco já conseguem reprogramar estas células com a adição de três ou quatro genes de forma a levá-las de volta ao seu estágio embrionário. Mas, levando esta pesquisa um pouco além, o médico Masaki Ieda e seus colegas encontraram genes que, num embrião em desenvolvimento, transformam estas células imaturas em uma célula cardíaca que bate, ou cardiomiócito. Eles usaram três genes - chamados Gata4, Mef2c e Tbx5 - para converter os fibroblastos do coração de ratos em cardiomiócitos. Ao injetar estas células alteradas nos animais, elas se transformaram em cardiomiócitos em menos de um dia, relataram os pesquisadores da revista científica "Cell".
"Os cientistas tentam há 20 anos transformar células não musculares em células do músculo do coração, mas ao que parece tudo que precisamos é a combinação certa de genes na dose certa", explica Ieda, que agora leciona na Escola de Medicina da Universidade de Keio, no Japão.
Quando pacientes têm ataques do coração, as células cardíacas morrem por falta de oxigênio. Se os danos ao tecido são extensos o bastante, essas pessoas sofrem com insuficiência cardíaca e frequentemente morrem. Os cientistas, então, buscam várias maneiras de regenerar este tecido danificado, mas pacientes em condições mais severas têm como opção apenas órgãos artificiais ou um eventual transplante. Só nos EUA, 5 milhões de pessoas sofrem com problemas no coração. O novo tratamento, no entanto, ainda depende de muito desenvolvimento, destaca o médico Deepak Srivastava, diretor do Instituto Gladstone.
"A reprogramação direta ainda não foi feita com células humanas. Além disso, seria melhor achar um medicamento específico para ativar esses genes. Atualmente, os pesquisadores usam vírus para carregar os genes para dentro das células", diz.
Já no segundo estudo, uma equipe da Universidade de Stanford, também na Califórnia, voltou sua atenção para pequenos anfíbios chamados tritões, uma espécie de salamandra.
"Os tritões regeneram tecidos de forma muito eficiente. Em contraste, os mamíferos são patéticos neste trabalho. Regeneramos nossos fígados, e ficamos por aí", justifica Helen Blau, do Instituto de Biologia de Células-troco e Medicina Regenerativa da universidade.
Também trabalhando com ratos, Blau procurou razões para que os anfíbios possam regenerar até membros inteiros, enquanto os mamíferos não. Estudos sugerem que os mamíferas abriram mão da capacidade porque o mesmo processo pode levar ao desenvolvimento de câncer. Um gene supressor de tumores chamado retinoblastoma, ou Rb, seria o responsável por isso.
"Construímos uma hipótese de que, ao longo de sua evolução, os humanos ganharam este supressor de tumores que não está presente em animais inferiores às custas de sua capacidade de regeneração", explica Blau.
Os pesquisadores, no entanto, encontraram um segundo gene envolvido no processo, batizado ARF. Ao bloquearem a ação tanto do Rb quanto do ARF nas células musculares do coração de ratos, elas começaram a crescer e se multiplicar. O problema está em controlar este processo de forma que a células não se proliferem descontroladamente e formem tumores, afirmam os pesquisadores no estudo, publicado no jornal "Cell Stem Cell".
Da Agência O Globo