Pessoas com deficiência enfrentam desafios para andar no Centro do Recife
Calçadas cheias de buracos, lixo nas ruas, falta de sinalização especial são alguns dos muitos os problemas.
Calçadas cheias de buracos, lixo nas ruas, falta de sinalização especial. São muitos os problemas que as pessoas com deficiência enfrentam para andar no Centro do Recife.
O Recife dá o exemplo perfeito de como uma pessoa com necessidades especiais não deve ser tratada. Basta observar o resultado de uma pesquisa feita pelo Instituto Federal de Pernambuco (IFPE) em vários pontos turísticos. Com base em mais de 20 diferentes critérios, o desempenho dos locais ficou entre ruim e regular. E é fácil entender o porquê.
Na hora de atravessar a faixa de pedestre, no Centro da Cidade, nenhum dispositivo sonoro para quem não enxerga. Nas paradas de ônibus, nem som, nem sinalização em braile indicando as linhas e os itinerários dos ônibus.
Calçadas sinalizadas no piso com uma espécie de bolinhas em relevo são uma raridade. Mais fácil encontrar buracos e desníveis. “Parece mais que as calçadas são uma ladeira. Imagina para um deficiente andar nessa ladeira”, diz o apontador de produção Antônio Lima.
Mesmo que a calçada não fosse uma ladeira, pessoas como a educadora social Cosma Bezerra (foto 1) não poderiam passar por ela. O lixo toma todo o espaço. “Além de a calçada não é ser acessível, com lixo não dá para passar mesmo”, reclamou.
Quem também sente falta de mais acessibilidade, termo que significa condição de usar espaços e equipamentos, é Elba Maria Oliveira (foto 2), de 50 anos. Aos 22, precisou reaprender a ver o mundo de outro jeito. É que por causa de uma inflamação na retina, ela perdeu a visão e para não perder as oportunidades, vive uma aventura diária. “Tenho medo das bocas de lobo, de bater nos orelhões, nas caixas dos Correios”, disse.
O agente de saúde Arão José de Oliveira, cego desde criança, está acostumando aos desafios. Concluiu o terceiro grau, foi aprovado em concurso público, mas certos obstáculos ele encontra dificuldade para superar. Todos os físicos, criados e mantidos por quem não se coloca no lugar do outro. “Desse jeito eles nos deixa sem chance de poder exercer a nossa cidadania de forma completa. Nós corremos risco de atravessar, por exemplo, em local proibido”, falou.
De acordo com o IBGE, as pessoas com necessidades especiais representam 14,5% da população brasileira e 17% da pernambucana. A maioria não teve a oportunidade que os alunos do Núcleo de Atendimento aos Alunos com Necessidades Educacionais e Especiais, que funciona na Cidade Universitária, no Recife.
No local, material em braile, intérpretes de libras. Tudo de graça e feito para incluir. “O nosso objetivo é incluir os portadores nos nossos cursos regulares, desde o vestibular, a permanência e a saída do curso, inclusive preocupando-se com a empregabilidade deles”, explicou o professor Gustavo Estevão (foto 3).
“Antes, eu tinha que me adaptar ao mundo. Hoje, eu vejo que ele está se adaptando a mim”, disse o tecnólogo em turismo Josemberg Francisco da Silva (foto 4).
CALÇADA E SINAIS
Segundo a secretária executiva de Controle Urbano, Ana Cláudia Mota (foto 5), desde 2004, a Prefeitura obriga que novas obras ou reformas apresentem proposta de mobilidade para as calçadas. “A licença para novos comércios também só é expedida se tiver um projeto de acessibilidade. Sobre os sinais sonoros, a CTTU tem os colocado em pontos estratégicos, como na avenida conde da boa vista”, informou.
O Recife tem 46 semáforos sonoros de pedestres (sinais sonoros para travessia de pedestres), para auxiliar a travessia dos deficientes visuais. Mas, para o funcionário público Lúcio Moreira, a quantidade de sinais sonoros é pouca. “Todo tipo de ajuda técnica para facilitar a nossa locomoção ajuda é bem vinda. É algo que deveria ser padronizada em toda a cidade”, falou.
Segundo a CTTU, quando há uma solicitação, é feito um levantamento do local para verificar a possibilidade de instalação do equipamento. Então, você pode fazer o pedido ligando para o telefone 0800 081 1078.
LIXO
Sobre o lixo nas calçadas, o presidente da Emlurb, Carlos Muniz (foto 6), o poder público cumpre a sua parte, mas a população deve colaborar. “As pessoas devem colocar o lixo no lugar e horário certos, é até infração o contrário”, explicou.
ÔNIBUS
O Grande Recife Consórcio de Transporte respondeu em nota que, em relação à colocação de placas em braille nas paradas, esse tipo de sinalização já tinha sido implantada nas avenidas Nossa Senhora do Carmo, Conde da Boa Vista e Guararapes, de forma experimental, mas que praticamente todas as placas informativas foram destruídas pelo vandalismo nos últimos anos.
O Grande Recife disse que vem elaborando, desde ano passado, um projeto de novas paradas de ônibus que prevê a sinalização para deficientes visuais, no entanto, ainda não foi definida a forma que o material será implantado devido aos problemas citados há pouco.
Os atos de vandalismo também ocorrem nos terminais que possuem as placas em braille. As placas arrancadas são repostas, mas, por causa do alto custo, isso não pode ser feito em cerca de 5.000 paradas existentes na Região Metropolitana.
Sobre a sonorização, o Consórcio informou que existe um sistema de som, com informações sobre as linhas de ônibus, implantado no Terminal Pelópidas Silveira, em Paulista. Em breve, no terminal do cabo. E ressalta que todos os novos terminais, além dos já existentes, também irão contar com o serviço até 2012.
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