29 outubro 2010

Combata a Anemia com à ajuda do Arroz Enriquecido com Ferro


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Base da alimentação de norte a sul do Brasil, o arroz pode ser a solução para combater a anemia. Uma versão enriquecida com ferro pela tecnologia Ultra Rice® teve maior eficácia que os suplementos de ferro no tratamento de crianças anêmicas, de acordo com pesquisa do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O arroz enriquecido com pirofosfato férrico micronizado aumentou as reservas de ferro e reduziu a incidência de anemia num grupo de crianças entre 6 e 24 meses, com anemia leve e moderada diagnosticada.

Vencedora dos prêmios Henri Nestlé e Kellogg’s, a pesquisa, coordenada por Mark Anthony Beinner, doutor em ciências da saúde pela Universidade de Brasília (UnB), foi realizada com crianças de Santa Luzia e Vespasiano, municípios na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A metodologia envolveu a comparação dos resultados obtidos com o consumo de arroz enriquecido com ferro e de suplementação do mineral por meio de medicamentos, prática já usada no combate à anemia pelo Programa Nacional de Suplementação de Ferro, iniciado pelo governo federal em 2004.

O estudo foi realizado entre outubro de 2007 e fevereiro de 2008, com dois grupos de 82 crianças. Durante cinco meses, as famílias das crianças estudadas receberam arroz e suplemento de ferro em gotas, apenas uma delas fortificada com ferro. Segundo Mark Beinner, por uma questão ética, nenhum dos grupos usou apenas placebo. "Um grupo consumiu arroz fortificado com pirofosfato férrico micronizado, usando a tecnologia Ultra Rice®, e uma solução placebo com sabor de ferro. O outro grupo recebeu arroz não fortificado de tipo idêntico e um suplemento de ferro, como o sulfato ferroso, administrado via oral sob a forma de gotas", explica.

Durante a realização da pesquisa, os pais foram orientados a administrar a dose correta da suplementação de ferro e alimentar às crianças com arroz da forma habitual. Os exames realizados ao final dos cinco meses, e comparados com os iniciais, revelaram um aumento das concentrações de ferro em ambos os grupos, mas com um resultado melhor no grupo que usou o arroz fortificado. "O sulfato ferroso, administrado em comprimidos para adultos ou em gotas para crianças, não tem o efeito desejado por causa do sabor e efeitos colaterais, como dor de barriga, diarreia e até vômito em casos mais graves. As pessoas interrompem o tratamento e a anemia prevalece".

Para o pesquisador, a não alteração das características sensoriais do arroz enriquecido também colaborou para a adesão ao tratamento. Em testes de degustação realizados com alunos, professores e funcionários da universidade, a maioria não conseguiu identificar qual era o arroz enriquecido e o comercial, e não relataram diferenças no sabor, cheiro e cor, facilitando a adoção do grão. "Em populações em que as crianças são regularmente alimentadas com aproximadamente 100g de arroz cozido por dia, a fortificação do grão com ferro pode contribuir para aumentar os níveis de ferro pelo menos na mesma medida em que a administração livre de um suplemento de ferro administrado em gotas. Para o controle e prevenção das carências a fortificação é eficaz".

Políticas públicas

Os índices de brasileiros anêmicos têm diminuindo nos últimos anos com a queda da desnutrição. Mesmo assim, segundo Mark Beinner, ainda há muitas regiões com populações que precisam melhorar a nutrição, principalmente para evitar um de seus problemas mais graves, a anemia. O arroz fortificado ainda não é produzido de forma comercial e há, inclusive, uma pré-condição da Path, organização americana detentora da tecnologia, para que as empresas interessadas em produzi-lo não tenham margem de lucro. Mas a Universidade Federal de Viçosa (UFV), na Zona da Mata mineira, já está em negociação para a transferência da tecnologia.

Nos Estados Unidos, desde 1940 a legislação prevê a fortificação de alimentos, uma tentativa de devolver os nutrientes perdidos no processamento dos alimentos. No Brasil, apenas o trigo e a farinha de milho são enriquecidos, mas estudos de universidades de Pelotas e da Guatemala mostraram que a quantidade de ferro é baixa e não provoca o efeito desejado. "Já o arroz, por ser habitualmente consumido todos os dias, vai garantir o consumo mínimo do nutriente".

Cidades como Indaiatuba (SP) e Sobral (PB) já estão alimentando mais de 50 mil crianças de escolas da rede pública com o arroz enriquecido. Esses lugares, segundo o pesquisador, adotam a quantidade mínima de 30% de ingestão de ferro: os outros 70% devem ser supridos por meio de outros alimentos. Já para o tratamento de deficiência de ferro, caso das crianças estudadas, a quantidade deve ser maior. Além da necessidade de políticas públicas para fornecimento do arroz para as crianças em fase de crescimento, a expectativa do pesquisador é a conscientização da população. "Eles precisam entender que não se trata de um alimento geneticamente alterado: é simplesmente o enriquecimento do mesmo arroz que estão acostumados a comer".

Do Estado de Minas
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