Cientistas desvendam células que "escondem" o HIV
Médica ganhadora do Nobel diz que cura para a doença é "missão impossível"
Cientistas reunidos na Conferência Internacional sobre Aids, realizada em Viena, tentam compreender de que forma o vírus HIV se esconde nas células do corpo humano, com a esperança de um dia reduzir sua intensidade.
Kevin Frost, da ONG americana amfAR, diz que "o assunto-chave são as células que servem de reservatório para o vírus" e que "esse é o maior obstáculo que temos que superar". A francesa Christine Rouzioux, virologista no Hospital Necker, em Paris, diz que "é um tema novo, cada vez mais presente, e que interessa muito mais que nas outras conferências internacionais".
Um seminário reuniu 200 cientistas, médicos, representantes dos doentes e das agências de financiamento para discutir as pesquisas mais recentes sobre essas células reservatórios, que estão disseminadas em todo o corpo, sobretudo nos tecidos linfoides (presente em órgãos como o baço), na medula óssea e nas células do sistema digestivo.
Ali, o vírus em inatividade espera o momento para agir. Geralmente, isso ocorre quando o paciente suspende o tratamento para se revelar, transformando a infecção por HIV em uma doença crônica e incurável.
O título do seminário, "Rumo a uma cura, as estratégias para controlar os reservatórios", não significa que se pense que a infecção poderá ser curada algum dia. Para a médica Françoise Barré-Sinoussi, ganhadora do Prêmio Nobel de Medicina essa é uma "missão impossível".
– Custo crer que poderemos eliminar o vírus.
Pelo menos se pode esperar reduzir o número de células em estado latente para que as pessoas infectadas possam controlar sua infecção, como certas pessoas fazem naturalmente, mas representam menos de 1% dos soropositivos. Esses pacientes, infectados há mais de dez anos, não sofrem a replicação do vírus, nem desenvolvem a doença. Graças a um sistema imunológico que funciona muito bem, não precisam de tratamento.
A professora Rouzioux diz que os estudos na área "avançam bem"
– Todo mundo está de acordo que, tratando cedo as pessoas infectadas, se consegue diminuir mais facilmente os reservatórios, já que o tratamento precoce preserva as células imunológicas que ajudam a combater a infecção.
A cientista citou um experimento realizado há vários anos: foi interrompido o tratamento de pessoas que começaram a usar antirretrovirais apenas algumas semanas depois da infecção. O resultado foi que cinco das 32 pessoas que participaram da experiência estiveram em condições de não retomar o tratamento.
Fonte: www.alanac.org.br