Mulheres são alvo de punições macabras em sociedades que legitimam violência masculina
Se o recente exemplo da afegã Bibi Aisha — que teve nariz e uma das orelhas cortadas por militantes do Talibã em represália à fuga da casa do marido — ganhou a atenção global depois de a moça ter tido a face desfigurada estampada na capa da revista americana “Time”, ativistas lidam diariamente com outros episódios de pouca repercussão pública.
É o que acontece com vítimas de ataques com ácido — uma prática cruel, corriqueira e que, ao contrário dos muitos casos de penas brutais e castigos corporais divulgados por organizações internacionais, não está fundamentalmente ligado a interpretações da Sharia, a lei islâmica. Casos vêm à tona tanto em países muçulmanos, como Paquistão e Bangladesh, quanto em budistas (Camboja e Nepal), ou cristãos, como Uganda. Em comum, o apego a estruturas patriarcais nas relações de gênero e a ameaça da desfiguração como forma de intimidar mulheres muitas vezes já vivendo uma rotina de medo e privação de direitos humanos. De certa maneira, uma agressão que pode ser considerada ainda mais cruel que execuções.
Ataques com ácido raramente resultam em mortes. A intenção é simplesmente desfigurar a vítima como forma de punição, muitas vezes contra mulheres que, por exemplo, se recusaram a aceitar casamentos arranjados ou mesmo que contrariaram decisões de sua família — explica Rick Trask, diretor da Asti, ONG especializada no apoio a vítimas de ataques com ácido. Embora não morram, elas têm suas vidas destroçadas, pois precisam de cirurgias reconstrutivas múltiplas e acompanhamento psicológico
No caso das vítimas do ácido sequer há leis. No Paquistão, um dos países em que mais ocorrem casos do gênero (400 por ano, segundo ONGs de defesa dos direitos humanos), os ataques não têm penas previstas pela legislação. No Afeganistão, organizações como a Rawa afirmam que a violência contra mulheres faz parte da tradição e não poupa nem mulheres com destaque social.
Da Agência Globo